A história de um apaixonado pelo que faz
Prefácio de Geraldo Nunes para o livro Mirage III – EBR/DBR na Força Aérea Brasileira – FAB – ZLC – Editora – 1ª Edição – dezembro/2008
Paulo Fernando Kasseb dispensa apresentações para quem estuda a história da aviação, do radioamadorismo, ou qualquer outro assunto cujo objetivo seja o resgate da memória. Mas faltava a ele o advento de um livro que agora surge e já me faz saudá-lo a partir do início desse texto.
Parabéns, Paulo! Afinal este trabalho vem qualificá-lo ainda mais e o coloca na condição de escritor. Ressalto, você não é apenas o autor de um livro, mas um escritor porque todos que o conhecem sabem que este é apenas o primeiro trabalho de uma série, tamanho é o seu conhecimento. Para quem duvida informamos que Paulo Fernando Kasseb é hoje possuidor no Brasil do maior acervo particular sobre a história da aviação brasileira, não só no que diz respeito a fotos, mas também a livros raros e documentos.
Este primeiro trabalho publicado que explica como se deu a chegada ao Brasil dos aviões Mirage III é, portanto, apenas o início da apresentação pública dos conhecimentos desse estudioso inestimável. Quem viver verá e terá a constatação do que estou escrevendo. Paulo Fernando Kasseb escreverá ainda outros livros. Possui conhecimento e sensibilidade de sobra, visto que sua vida também é de lutas e desilusões.
O nosso autor nasceu em São Paulo – SP, em 1955, e apaixonou-se por aviação de modo inexplicável visto que ainda pequeno corria à janela ao ouvir o ronco de um aparelho que poderia ser um Junker, um Avro ou um DC – 3. Ainda não sabia identificar, mas, ao ver a fotografia de um avião em algum jornal, tentava desenhá-lo em um pedaço de papel e ali passava horas brincando. Isto se deu naqueles tempos quando o céu parecia mais azul e os sons da cidade eram menos estridentes.
Perguntado por qualquer um sobre o que seria quando crescesse dizia: “Aviador”. Foi também esta pergunta que lhe fez um médico oftalmologista que o examinou ao início do curso primário. Ao ouvir a resposta, insensível talvez, o médico argumentou que ele não deveria alimentar tal ilusão por ser “estrábico”. Óbvio que o menino ficou chocado, mas as palavras do doutor só foram capazes de destruir o sonho de pilotar um avião, mas não destruíram a paixão por tudo aquilo que voa pela ação do homem.
Dali em diante passou a devorar livros, colecionar reportagens, documentos; guardando tudo como se fosse um tesouro. Na adolescência buscando aprender mais sobre o assunto aviação, passou a estudar radiofonia e radiotelegrafia, aprendendo o Código Morse, tão útil aos aviadores durante anos. Buscou ainda entender a linguagem dos aeronautas com os controladores de vôo. Tentando decifrar aquela comunicação, para saber as freqüências, aprendeu como funcionavam os aparelhos de rádio em terra e nas aeronaves. Esse estudo desenvolveu nele também o prazer pelo radioamadorismo, hobby no qual se aprofundou a ponto de os colegas fazerem dele diretor-presidente da Labre – Liga Brasileira de Radioamadores durante alguns anos.
Antes disso buscou aproximação com a Força Aérea Brasileira a quem procurou para aprimorar seus estudos. Acabou cativando a todos porque não ia como outros alunos, para fazer um trabalho de escola. Paulo visitava os lugares e depois retornava porque queria aprender mais e a cada informação novas idéias lhe surgiam. Para que nada se perdesse, entrando na fase adulta prestou vestibular em Comunicação Visual para ingressar na Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado onde se bacharelou. Assim, já formado e imbuído de todo o conhecimento adquirido anos a fio, passou a organizar mostras e eventos apresentando tudo o que já guardava em sua coleção particular.
Tal empenho levou o próprio Ministério da Aeronáutica a convidá-lo para organizar a exposição oficial comemorativa de seu cinqüentenário, em 1991. A exposição aconteceu num dos saguões do Aeroporto de Congonhas e obteve repercussão nacional. Entre outros trabalhos, dez anos depois, em 2001, Paulo Kasseb organizou a mostra comemorativa dos 60 anos da Base Aérea de Cumbica, em Guarulhos - SP. Acho importante citar essas datas porque elas servem para mostrar o quanto Paulo Kasseb é querido. Ele é independente da política dos gabinetes, pois todos reconhecem nele um batalhador incansável em nome das causas da aviação.
Entra governo, sai governo, nada muda na relação entre ele e a Força Aérea Brasileira. Incansável, soube tomar a frente e promover praticamente sozinho uma retrospectiva, em 2004, de toda a história da Escola Técnica de Aviação, com fotos e documentos que durante um mês ficaram em exposição no atual prédio do Memorial do Imigrante, local onde a referida escola funcionou nos idos da Segunda Guerra Mundial. Por este esforço contínuo, o merecido reconhecimento começou a surgir.
Sempre convidado, passou a colaborar com artigos sobre a história da aviação civil e militar brasileira para publicações do gênero e isto fez despertar nele o espírito de escritor. Por divulgar os grandes feitos da aeronáutica, recebeu o título de Membro Honorário da Força Aérea Brasileira bem como a Medalha Mérito Santos Dumont pelo Ministério da Aeronáutica. Também o GTE – Grupo de Transporte Especial, unidade da FAB, sediada na Base Aérea de Brasília, concedeu-lhe o título de Planalto Honorário, por seu empenho na concretização do Museu Histórico daquela unidade aérea.
Por acreditar, defender e apoiar a formação de novos aviadores passou a incentivar o movimento Escoteiros do Ar, onde uma parcela da juventude dedica-se a fomentar atividades ligadas à aviação, motivo pelo qual seu trabalho foi agraciado com o título Gratidão Ouro pela União dos Escoteiros do Brasil – Modalidade do Ar. Para finalizar, embora pudesse me alongar ainda em mais elogios ao nosso debutante escritor, quero dizer que se quisesse, Paulo Fernando Kasseb poderia hoje estar pilotando aeronaves. O aprimoramento das máquinas e da medicina permite isso, mas ele não quer. Prefere ficar na posição onde está, de incentivador do desenvolvimento da aviação, na incansável missão de estudar o passado e explicar o presente para os futuros aviadores. Parabéns, mais uma vez, Paulo Fernando Kasseb! Estamos todos orgulhosos de você!
Geraldo Nunes é jornalista, escritor, radialista e Membro Honorário da Força Aérea Brasileira desde 2006.